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Espaço 356

Comercial
Centro de Compras e Entretenimento
Shopping Mall

Serra do Curral: 
Patrimônio Natural e Urbano de Belo Horizonte

A Serra do Curral, ao sul de Belo Horizonte, é um marco geográfico e simbólico, parte do Quadrilátero Ferrífero e importante jazida de minério de ferro. Sua vertente norte, visível da avenida Afonso Pena, originou o nome da cidade e foi destacada no projeto urbanístico.

A região, rica em recursos naturais e culturais, se desenvolveu com a mineração desde o século 18, impulsionando a expansão urbana em Nova Lima e Brumadinho. Preocupações ambientais levaram ao pedido de tombamento da serra em 1958, resultando em debates e mobilizações pela sua preservação.

Na década de 1970, a criação do Parque das Mangabeiras respondeu aos danos da mineração, preservando a vertente voltada para a capital. Em 1994, a APA SUL RMBH foi criada, abrangendo vários municípios e importantes bacias hidrográficas, com vasta cobertura vegetal nativa.

A Serra do Curral, essencial para Belo Horizonte, reflete sua importância natural e cultural para a cidade. É junto a este importante e complexo marco belorizontino que o Espaço 356 foi concebido e construído.

FICHA TÉCNICA

Nome do projeto: Espaço 356
Tipologia: Comercial – Centro de Compras e Entretenimento – Shopping Mall
Cliente: Grupo EPO
Construção/Retrofit: Grupo EPO
Ano do projeto: 2014-2018
Término de construção/ Retrofit: 2024
Área construída total: 30.000m²
Localização: Olhos D’água, Belo Horizonte, MG, Brasil

EQUIPE

BLOC Arquitetura Imobiliária
Alexandre Nagazawa
Alexandre Nagazawa
Matilde Barros
Bruno Fontes
Bruno Schreiber
Pedro Ludovico
Rafael Batista
Rosana Leonel

FOTOS: Jomar Bragança
DESIGN E DETALHAMENTO DAS ÁREAS COMUNS: Isabela Vecci Abijaude
PAISAGISMO: Felipe Fontes

Micro Região do Olhos D’água

A Estação Ecológica do Cercadinho ocupa uma grande parte do bairro Olhos D’água, enquanto a área urbanizada restante é dominada por galpões industriais, pátios logísticos, depósitos e estacionamentos, todos com baixa qualidade ambiental. A porção sul e áreas ao longo da linha férrea sofrem com ocupações irregulares.

Ao longo da BR-356, predominam operações de motéis, muitos já desocupados e em mau estado de conservação, criando uma aparência de abandono. Essas operações enfrentam dificuldades financeiras, resultando em alta vacância. Proprietários buscam alternativas para esses imóveis, mas sem sucesso viável.

 

Apesar da beleza da Estação Ecológica do Cercadinho e da Serra do Curral, esses elementos naturais não são aproveitados pelos empreendimentos da região, que permanecem desconectados das potencialidades ambientais e estéticas locais.

A falta de integração entre a arquitetura e o contexto natural resulta em um ambiente degradado e pouco atraente.

Primeira Visita ao Terreno

Chegamos ao terreno pela via anteriormente repleta de pinheiros e arbustos que tinham a missão de ocultar os frequentadores locais dos olhares curiosos que passam pela BR-356. Ao olhar para os outros carros que transitavam devagar pela rua suspeitávamos das suas reais intenções. As nossas? Talvez não tão divertidas, mas igualmente instigantes.

Adentramos na edificação, pasmem, ainda em funcionamento e fomos tomados por uma mistura de constrangimento e curiosidade. A decoração dos quartos, reminiscente dos anos 80, com pôsteres de beldades nas paredes e espelhos bisotados de todas as formas – no teto, nas laterais e até no chão – refletia a criatividade temática dos motéis. Demonstrava também como, no calor e na euforia da atividade ali exercida, as pessoas não percebiam a extravagância da decoração. Será que era o escuro? Imagino que nem sempre as luzes estavam apagadas.

 

A descoberta deste lugar único em nossa trajetória de projetos foi uma delícia e verdadeiramente instigante. Não apenas pelo ponto de vista da atividade de outrora, mas também pela riqueza do arquétipo e sua organização espacial improvisada. Junto, o paliteiro estrutural escondido abaixo do motel nos forneceria uma base material fascinante para projetar.

Costumo brincar que aquela edificação trouxe muita alegria para muita gente. Para nós, durante o processo de projeto, e, num futuro próximo, ainda mais alegria com novas experiências para pessoas de todas as idades e classes.

Conceito arquitetônico

A edificação antiga já demonstrava suas forças e os caminhos que teríamos que seguir. As ruas por onde antes transitavam os carros se conformavam automaticamente como os fluxos principais dos pedestres. Imaginávamos todas as circulações repletas de vegetação, verdadeiras ruas arborizadas, como se fossem passeios extensos, agradáveis, apenas para as pessoas caminharem.

Os antigos quartos, anteriormente ocupados por garagens no primeiro nível, se configuravam claramente como lojas, já surpreendentemente divididas e moduladas com profundidade e largura ideais para a maioria das operações comerciais imaginadas para lá.

Os pavilhões de quartos foram implantados de forma ruidosa e tortuosa, seguindo o caos típico daquelas construções que crescem conforme a demanda, como verdadeiros puxadinhos. Tudo era hermético, cheio de paredes e fechamentos, justamente para que ninguém visse nada, devido à atividade ali exercida.

Vimos que tudo deveria ser aberto para comunicar visualmente os blocos e atravessar os volumes por grandes circulações. Várias das paredes, inclusive, não possuíam estrutura alguma, tendo que receber escoramentos e vigas e pilares auxiliares.

Certamente, seria mais prático demolir tudo. Derrubar a construção antiga e construir do zero. A certeza é que surgisse ali apenas mais um grande galpão que nada adicionaria à paisagem e a um entorno com tanto potencial natural. Mas o empreendedor topou algo dificílimo: um retrofit. Aproveitando a estrutura existente e criando novos blocos para novas funções, com módulos de grandes lojas, estacionamentos e circulações verticais adequadas ao novo uso proposto de centro de entretenimento e compras. Um desafio gigantesco que exigiria muito da nossa criatividade de design, dos engenheiros envolvidos e do próprio modelo de negócios a ser firmado ali.

 

O antigo motel foi exposto, aberto, suas ruas internas descortinadas, ajardinadas densamente com um verde exuberante em um paisagismo marcante e bucólico. Um grande esqueleto estrutural, que foi descoberto na primeira visita ao terreno, agora está exposto. A grande laje que o cobria foi retirada, expondo uma malha estrutural imbricada, rica esteticamente, uma força que antes estava escondida e renegada na escuridão dos subsolos sem função da antiga edificação. Agora há luz natural, ventilação, verde, em um pé direito quádruplo e instigante.

A materialidade é simples e direta: concreto aparente, aço, vidro, madeira e muito verde do paisagismo que se integra à estrutura bruta. Uma combinação da brutalidade do concreto com o verde ressalta, através da diferença gritante de essência, um poder de atenção incrível das pessoas. A natureza parece querer dominar a intervenção humana a todo instante, ocupando cada espaço, cada canto da edificação.

Os jardins são propositalmente densos nas ruas internas. Já na esplanada e no rooftop, segue um paisagismo mais sereno, do cerrado, junto ao vento típico das nossas serras. Capins, flores do campo, cores que infestam as nossas serras de Minas Gerais estão por todo lado nos grandes terraços criados.

Diferentemente de outros espaços comerciais, propomos além das ruas internas arborizadas para o caminhar das pessoas, áreas abertas e livres, como grandes praças, espaços de estar, com a intenção clara de propor lugares que fogem do consumo, do estereótipo do shopping onde todo e qualquer lazer, estar ou sentar é pago.

Principalmente durante a pandemia, vimos que o conceito de um centro comercial aberto tem benefícios gigantescos, muito além da questão de possibilitar a ventilação e iluminação natural. Assim, criamos a grande esplanada aberta com uma fonte onde as famílias poderão brincar nos dias quentes. 

Um rooftop gigantesco para eventos e atividades ao ar livre estará à disposição para a população. Uma grande arquibancada joga o olhar das pessoas para a contemplação da serra, para a beleza natural da Estação Ecológica do Cercadinho e, ao fundo, ao skyline da cidade com seus altos prédios que cercam o Belvedere.

Queríamos desde o início criar um lugar de encontro, onde as pessoas pudessem passar o tempo juntas e se reunir de forma leve, contemplar o entorno de natureza, sem a pressão e stress típico de um centro de compras tradicional. Um lugar verdadeiro, com uma relação entre o antigo e o novo harmoniosa e de retroalimentação com os potenciais locais e naturais.